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Foto do escritorElle Oliver

E Você? Vamos falar sobre isso.


Um dos maiores problemas que tive/ tenho que enfrentar para conseguir levar à diante meus planos... Disneísticos (na verdade o plano de sobreviver, mais básico e tão difícil quanto o plano Disney) é lidar comigo mesmo. Explico; senta que lá vem história.

Se fossemos instruídos, sem preconceitos e dialogássemos, minha família teria descoberto isso quando eu ainda era um pequeno filhote de dragão de Komodo, com 6 anos aproximadamente. Era bem claro pensando agora. Mas, acho que mesmo a maioria sendo da área da saúde, o preconceito sempre foi grande. Como uma criança que mal viveu, tem crise de pânico, ansiedade, etc?

Na escola era pior, eu começava a passar mal e a ''tia'' uma vez cochichou com outro funcionário:

-Ela é assim, gosta de tomar remédio, é só dar esse copo de água e fingir que é remédio que ela melhora.

Eu melhorava mesmo, sempre que saía da sala, sentava em um banquinho, bebia uma água e me acalmava. Obviamente era esse ritual que me acalmava mas elas não estavam tão erradas assim.

O caso é, eu tinha essas crises de não saber o que tava sentindo em vários lugares, várias vezes. Costumava ficar andando de um lado a outro até a crise passar; quanto pior, mais rápido eu andava.

Assim, foi sugerido de certa forma que aquilo era enjoo já que sempre que eu começava a ter, me davam o tal remédio de enjoo e eu melhorava. Hoje em dia é obvio, eu tomava e melhorava pois esse remédio dá MUITO, MUITO sono. Era só tomar que eu virava de um robô que andava de um lado ao outro para um ursinho carinhoso dorminhoco. Mesmo nos dias atuais, me dá bastante sono (mas agora só tomo pra enjoo mesmo).

Eu virei a criança que tinha um ~probleminha~. Sempre que ia fazer algo diferente, ficava assim. A primeira vez que fui sair sem meus pais, mais ou menos com 7 anos, vi minha mãe conversando com a mãe da colega que me levaria para sair:

-Olha, ela fica enjoada do nada, é a primeira vez que ela faz isso então pode ser que aconteça.

BEM NORMAL.

Também tinha gente que achava que era manha ou por eu ser mimada. Sim, os especialistas de timeline do facebook já existiam e falavam que era por eu ser filha única então era muito mimada.

Teorias à parte, só uma pessoa acertou, muitos anos depois.

Fiquei mais velha e as crises também pioravam. Tanto por conta de não ter sido resolvido no passado, quanto da criação super protetora da minha família. Não era uma adolescente problemática nem nada, muito pelo contrário, passava a maior parte do tempo jogando. Mas de vez em quando, eu queria sair com meus amigos e nunca pude. Quando eu podia, raras vezes, e em locais específicos, eu passava muito mal de ''''''enjoo'''''' e acabava perdendo vontade de sair, eu pensava: ''meus pais é que estavam certos mesmo''.

Deve ser por isso que me identifico tanto com essas coisas Disney, mamãe Gothel e papai Tritão.

Isso afetou muito minha minhas habilidades de comunicação que já não era lá essas coisas, o que vocês esperavam de uma pessoa que só se comunicava no MSN ou em jogos mmorpg?

-xDD Oii miguxoz, abc!! (sendo que cada letra era uma thumbnail diferente)

Eu via meus amigos saindo e contando sobre o que tinha acontecido, as pessoas que conheceram. Minha adolescência foi um figment.

Fig.ment: É uma coisa formada de elementos imaginários como sonhos, pesadelos, cheiros, cores... Algo que parece muito real mas foi construído através da sua imaginação.

Elle também é cultura. Não saiam da escola. Ou saiam, só cagaram em mim lá, sei lá.

Continuando, através das experiências dos meus amigos, eu conhecia as coisas. Até um dia que eu não conseguia comer. Eu olhava para o prato e chorava; na verdade, eu chorava do nada, aleatoriamente e tentava esconder dos meus pais. Deu certo, escondi tão bem que até muito recentemente eles nunca tinham visto uma das minhas crises atuais. Como diálogo sobre o que eu sentia de fato nunca foi uma prática, eu nem sabia o sentimento que eu tinha bem como era normal não mencionar.

Logo depois disso, comecei a faltar as aulas ou sair mais cedo. Parece nada pra algumas pessoas mas eu NUNCA faltava. Ainda mais por simplesmente não ficar doente e meu período na escola era bem maior que o da maioria dos alunos já que eu fazia aulas extraclasses de teatro, basquete e um trilhão de outras coisas. Não conseguia ir, só de pensar meu coração acelerava, sentia taquicardia, tinha dor de barriga e chorava. Era uma a cada minuto, a única coisa que eu conseguia fazer era ficar deitada, parada, respirando. A certeza que eu ia morrer de um treco no coração a qualquer segundo não saía da minha cabeça.

Quando eu estava na escola e começava a sentir isso, ligava para minha tia ir me buscar. Alguns alunos me sacaneavam:

-Ué, vai dar o golpe de passar mal de novo?

Um professor foi em minha defesa. Uau, aquilo foi estranho, minha cara devia estar mesmo péssima.

Não sou uma pessoa de favores, não gosto de incomodar ou me aproveitar, então para ligar para minha tia me buscar era algo que eu fiz pois cheguei em um extremo.

Adiantando a história, fui ao médico e tudo estava normal. Magicamente, assim que saí do consultório, nunca mais senti aquilo; era uma coisa que vinha completamente da minha cabeça e o check up me fez ter certeza disso.

Tudo voltou ao normal. ''Normal''. E esses episódios foram excluídos do Netflix (a.k.a cabeça dos meus pais) e FIM.

... Ou ao menos, quem dera.

Depois de um tempo, piorei. Já que meu subconsciente sabia que eu não caía no papo de taquicardia, voltei a chorar em momentos aleatórios, ter crises de pânico, ansiedade e depressão. No ônibus lotado ou em casa sozinha, toda hora era hora.

YAAAAAAAY

Era insuportável, mortalmente insuportável. Comecei a fazer mentalmente minha carta de suicídio, testamento e maneiras de morrer, não me importava se doeria ou não. Nada era pior que aquilo; não desejo isso à ninguém, me consideram bem resistente à dor e eu sempre respondo com um:

-Ah to acostumada né, Sou mulher etc...

Mas na verdade o que me deixou resistente foi a dor que isso me causava. Era dor mental e física.

O pior é que eu pensava comigo mesma:

-Eu sou feliz, tenho uma vida boa, se eu estou infeliz é porque sou escrota, não tenho empatia com o próximo.

Pensando isso, o que estava ruim, piorava. Eu não entendia que qualquer um poderia ter isso.

Mais uma vez, vou cortar a história por aqui, foram muitos dias, muitos sentimentos ruins, muitos pensamentos ruins e decisões ruins. Ninguém com quem eu pudesse dividi-las para que ao menos, essas ideias pudessem passear um pouco, sair de mim, ir até os ouvidos de alguém e voltar. Isso já teria aliviado um tanto.

O que eu não sabia por falta de diálogo era que meu pai era assim, minha vó era assim e, provavelmente o pai dela. Mas minha vó sabia.

Um dia, não consegui esconder o que acontecia dela e então, finalmente fui buscar tratamento. Foram/são anos de tratamento, ver como eu progredi me deixa extremamente feliz, pude sonhar em ter uma vida no futuro, literalmente. Eu não fazia muitos planos e agora eu queria trabalhar na Disney, ser artista e ser uma pessoa funcional. Para isso, tive que enfrentar muitos déficits de comunicação com o ser humano rsrs, como lidar com algumas crises que eu tinha mesmo medicada. Vou ao psiquiatra (se bem que ando fugindo, malz aí), psicóloga e faço sessões de EFT.

Eu quis postar sobre isso pois sem essa ajuda eu nunca teria a menor chance. A menor chance de ir trabalhar longe de casa um dia ou até mesmo perto. Não teria a menor chance de fazer algumas coisas simples que qualquer um faz. Talvez não tivesse chance até de viver.

Mas agora que eu falei eu posso.

Sabendo da importância do diálogo, nasceu o E VOCÊ?, um projeto que preza a comunicação, não importando o que você sente, até porque, às vezes como comentei no texto, a gente não consegue nem identificar o sentimento.

Em breve, postaremos mais sobre o projeto no site, Instagram e Facebook. De qualquer maneira, a psicologia ainda encontra barreiras para alcançar as pessoas, não importando a classe. Por isso, o E VOCÊ une a comunicação e psicologia para escutar e ajudar as pessoas.

E você?

Vamos falar sobre isso.

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