Existem vários eventos de intercâmbio durante o ano que acontecem em sua maioria em hotéis chiques. Acho que antes desses eventos, eu não frequentava muito a Zona Sul do Rio de Janeiro na parte da manhã, fazendo com que fosse um ambiente extremamente diferente pra mim. Cadê os meninos vendendo pó e os turistas achando que poderiam pagar um programa?
Esses eventos são 0800 e você pode sempre levar um convidado. Nos primeiros, optei por levar minha progenitora. Poderia muito bem ir sozinha mas, só de pensar que eu teria que explicar tudo umas cinco vezes para meus pais sobre a experiência, achei melhor levar um dos dois pra não haver esse aborrecimento.
Sempre que eu falava sobre o assunto de ir estudar fora, um milhão de maritacas falavam de como era mais barato e da facilidade. Todo mundo parecia conhecer um fulano primo do ciclano que fez administração em Massachuctartstx.
Tudo pros outros é rápido, simples e fácil; tudo é um stories do instagram, impressionante. Mesmo amando a Disney e até tendo condições de ir, eu só consegui 20 anos depois. Então imaginem, como foi um parto pra mim toda essa história.
Na verdade é um parto pra maioria das pessoas, elas só escondem isso ou contratam uma agência pra realizar todas as partes burocráticas -que são muitas- e outras nem tanto.
Fui em uma dessas empresas (mentira, fui em todas existentes do RJ) pra saber como que funciona esse ~esquema~ e em todas , sem excessão, não tinham idéia sobre ''design de personagem'' além de sempre me empurrarem para faculdades no Canadá com discursos que eu teria visto Canadense e blablabla... Adivinha, Eu não quero. Eu só quero aprender. Não to indo pra dar golpe da barriga ou trabalhar lavando prato porque ''uh a vida em outro país ou o sonho americano é lindo''. Pra eles, não existia essa hipótese de me aplicar para uma universidade, entrar, ganhar bolsa e fazer o curso. Era algo mais como distribuir seu currículo até na China e quem te aceitar você vai. Eles não eram nem um pouco específicos e eu teria que pagar para além de realizarem a parte burocrática, também teriam que pesquisar a minha área. A cara de preguiça de todos era inegável já que sempre tinham na ponta da língua mandar pessoas relacionadas a arte para o Canadá. Acho que pensando melhor agora, mandar pro Canadá era um xingamento em códigos. E eu nem gosto do Canadá.
Eu ia embora sempre com essa cara de limão chupado mas ninguém notou pois sou uma Lady
O que mais dificultou essa pesquisa foi que ao contrário da maioria -sim, sempre tenho que ser a diferentona - eu não queria fazer um intercâmbio pra qualquer coisa, desde que eu fosse e pronto. As pessoas que frequentavam as feiras geralmente tinham três cursos em mente ou mais talvez por terem sido treinadas pelas agências para pensarem dessa forma (tipo Medicina, Administração e... sei lá, imaginem algo igualmente irritante... Direito, pronto). Logo, elas tinham mil e uma opções de escolha ex: uma faculdade especifica dá bolsas pra brasileiros que querem Administração então, essas pessoas se aplicam nessas vagas e em muitas outras que procuram as outras opções que elas possuem. Isso é válido já que qualquer experiência é um ganho, independente se você for levar pra frente o curso ou não.
De qualquer maneira, eu queria especificamente coisas relacionadas à arte e isso meus amigos, beira ao impossível. Das 30 bancas no evento de intercâmbio que possuem graduação, 29 possuem economia ( o chuchu dos cursos) e apenas uma, tímida, tinha algo com artes.
Sempre ficavam lá no final de um corredor abarrotado de pessoas paradas em outras bancas, se balançando com papéis informativos e às vezes, com sua família toda atrás.
Isso me lembrou como é injusto. Muitas crianças ali fazendo intercâmbios de verão ou adolescentes já pensando em sua graduação fora do país e eu ali só agora pois nunca foi uma opção pra mim; mesmo tendo uma vida confortável -ou relativamente confortável já que nesse momento estou há um mês racionando água em horários de presídio-.
Se pra mim já tá ruim... Imagina pra quem não tinha nem condições de estar ali e mesmo assim, de alguma forma estava. Algumas pessoas que claramente não eram daquele universo (pois eram normais ao invés de extremamente plásticas) prestavam atenção nas conversas das bancas -que na maioria eram em inglês- apenas para praticar a língua mesmo que só soubessem músicas pop. De um lado, me sentia mal por eles não terem as mesmas chances; de outro me sentia mal me comparando com outras pessoas com berço de ouro; o meu pensamento só foi quebrado quando uma das mães que acompanhava um rebento já praticamente adulto, esbravejava com um segurança pois segundo ela, seu celular fora roubado. Praticamente apontando para pessoas que ''não deveriam estar ali''.
Aquilo foi o cúmulo pra me fazer sair de lá e pensar seriamente se voltaria um dia. Já adianto que voltei e infelizmente, todos foram bem parecidos. Para resumir, é bem legal pois você pega contatos. Para saber como fazer um intercâmbio, documentos etc, eu indico o Google mesmo. Poupa o estresse e você já chega lá sabendo de algumas coisas.
Sobre a parte de fazer contato eu explico: nesses eventos, a gente deixa o e-mail para as instituições que ficamos interessados de forma que mais tarde, possamos tirar dúvidas ou até conhecer outras coisas. Foi assim que fui chamada para um ''café'' com a SVA...