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Acabou o hiato, isso aqui vai virar um inferno (ler no ritmo da música).

Atualizado: 17 de set.

Sim, eu sei, eu sumi daqui mas tenho um bom motivo (além da bipolaridade, depressão, ansiedade e TEA). Ironicamente voltando disso tudo no famoso Setembro amarelo.

Talvez não dure muito minha presença assídua aqui, talvez dure. Mas o importante é que temos atualizações e conquistas. Ou semi conquistas.

Finalmente...

Mas to enrolando muito, vamo logo ao que interessa (cofcof hmm)

To enferrujada, papel e caneta pfvr...

Como todo bom leitor, médio leitor, ou só pra quem acompanha meu instagram mesmo, deve saber do meu amor por carnaval. Nem vou me repetir nas memórias de infância; se tiverem curiosidade, é so ir em qualquer texto daqui.

Antes de começar, é bom avisar que a leitura pode causar gatilhos em algumas pessoas, muitas coisas mais pesadas foram omitidas porém, se você não está passando por uma fase legal, essa leitura pode ser péssima ou muito boa. Mas esteja avisado, piá.

tãnãnãnãnaaaa

Logo depois do Carnaval, fiz a promessa definitiva: ESSE ANO EU VOU COMEÇAR A TRABALHAR COM ISSO -já que sempre desejei ser carnavalesca. Sem voltar nas historias dos outros textos, esse ano eu fui fundo, nem os meus CIDs iriam me segurar. Li pra caramba sobre e frequentei palestras incríveis proporcionadas pela Mídia Ninja e Poderes Pretos.


Vou meter o ''quem me conhece sabe'', não consigo pedir ajuda ou favores, ficar perto e interagir é muito custoso mas ainda assim, fiz o meu máximo. Máximo MESMO. Me certifiquei de utilizar as palavras certas pra ninguém ter dúvida do meu objetivo.

E doeu.

Vi o interesse pelo meu trabalho, entreguei ilustrações, expliquei algumas coisas sobre meu processo criativo para determinada peça, ouvi promessas para que eu entrasse em contato....

Mas só.

Como artista, eu sei que todos estão ocupados pra lembrarem de mim, entrei em contato via inbox do instagram mas, como não me seguiam, provavelmente não leram. Talvez se eu comentasse em alguma foto... É uma barreira que parece boba mas eu não consegui ultrapassar, dessa vez, o TEA venceu. Liguei para pessoas (mentira, pedi pra minha mãe ligar... Me julguem) para perguntar se alguém poderia me ajudar. E quanto mais livros eu lia sobre carnaval no geral ou biografias, mais via que muitas das pessoas que eu admiro, em grande parte estavam de certa forma ligadas por sobrenomes que importam ou/e eram academicos cujos professores faziam parte de agremiações. Nada disso tirou minha admiração mas, tocou em um lugar que eu evitava olhar. O lugar do não pertencimento que sempre me consome. Seja quando estou com amigos, viajando, trabalhando, ou simplesmente andando na rua. É como um monstro, chega do nada, me dá um soco no estômago e sai assoviando.

Um dos motivos pra ser apaixonada pelo filme/livro A História Sem Fim, é como esse tema é trabalhado. O monstro do nada... O medo do nada...

O carnaval que era um lugar onde ele não podia me pegar, era a minha fantasia. Mas Ele chegou, e chegou com soco inglês. Cada pensamento, um soco.


Não me entendam mal, eu sei das minhas potencias. Mas saber não vale de nada quando Ele chega. E dessa vez chegou pra ficar. Me senti inútil já que a unica coisa que pensei que sabia fazer, não importava. Pra que ter nadado tanto, por tantos anos, contra a corrente pra morrer na praia? O caminho natural de quando eu sinto essas coisas é me confortar que toda essa dor que Ele me causa, pode acabar. Sabe, se eu escolhesse o oposto de estar viva. Mas também já passei por esse lugar, anos de porrada, acompanhamento psiquiátrico, remédios e a solidão dos amigos que optaram por esse caminho, deixaram pavimentado um lugar novo, no caminho oposto mas que daria na mesma, praticamente.

Pensei em me deixar viva, ou melhor, sobrevivendo. Mas me matar, matar tudo que me transformou nesse indivíduo. Esse indivíduo que não tem mais nada pelo que sonhar. Agora que eu me sentia rejeitada por tudo e todos, eu também me rejeitaria, sacas? Planejei minuciosamente, separando os desenhos que eu jogaria na água, as telas que eu quebraria a madeira, passando a faca no tecido delas e depois jogando no lixo. Nunca mais pegar em um lápis pra fazer algo inútil. Não teria arrependimentos já que havia tentado por anos. Também poderia, com sorte, trabalhar em algum lugar e ganhar dinheiro de verdade, pela primeira vez na vida.

Me sentia um peixe Betta, colorido, sobrevivendo em um aquário minúsculo. quem fosse ficar triste se eu me desvivesse, não ficaria mais. Com o dinheirinho mensal, poderia ter uma vidinha naquele aquario, só eu e meu reflexo. Sem que o monstro me encontrasse e pudesse me socar.

cutuca mas num encostcha

Não sei se esse texto já descarrilhou pra um ''foda-se, vou abrir o tiktok'', espero que não. Eu juro que de triste daqui não passa.

Um dia antes de colocar o plano em prática, eu pedi pra que os espíritos amigos e antepassados me dessem um sinal. Qualquer. Sinal.

Saí de casa para tirar o esmalte mirabolante, e colocar o famoso nude -pra já me adaptar a normalidade- eis que tinha uma moça muito bonita fazendo a unha ao meu lado. Ela disse algo que me fez encarar seu rosto e ali a reconheci: era a Rainha de Bateria Quitéria Chagas.

Conversamos bastante sobre carnaval e sobre a pesquisa que ela estava realizando. Não considerei isso como um sinal, foi uma pinta inteira, uma mancha enorme.

O sinal veio me dando um tapa na cara. Coisa ruim me da soco, coisa boa, me da tapa... Seria eu masoquista?

Quando cheguei em casa, descobri que a escola Unidos de Vila Isabel, tinha aberto vagas para alunos, era só ir na quadra ou cidade do samba, responder um questionário e rezar pra que aquilo me tirasse do Umbral. Demorou mas o dia chegou. Comecei a fazer aulas de escultura e por acaso com um profissional que eu já seguia e admirava o trabalho.

Eu quero aprender, eu quero aprender tudo, tenho fome de novo, me sinto viva. Sei que o caminho ainda vai ser muito complicado. Tenho dias bons, tenho dias que paro na emergência médica.

Tem dias que o monstro me visita, me soca com palavras sobre eu não ter mais amigos, não saber me portar em devidas situações, não ser incisiva nas minhas palavras, por não aparentar pertencer naquele ambiente, por não ser o suficiente...

Mas ele faz parte de mim, não existe alta dele, remédio que o pare. Ele sempre volta, ele sou eu, afinal, né? Sempre que falo que não tem cura pros meus CIDs, as pessoas tendem a tentar me animar mas sempre parece... Capacitista. Fico feliz que você deseje minha felicidade. Mas quero que entendam que eu tenho um monstro. Ele é diferente, e por isso, ele precisa de alguém diferente também. Alguém como eu. Juntos, também já fizemos coisas boas, conhecemos os monstros de outras pessoas, juntos eu e ele, não ficamos tão sozinhos. Nós damos pequenos passos para a pergunta que os adultos sempre me faziam:

-O que você vai ser quando você crescer?


Eu vou ser Carnavalesca.



 
 
 

2 comentários

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Lipe_ garnier
Lipe_ garnier
16 de set.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Elle Oliver Carnavalesca!!!!

Conheci seu trabalho na primeira vez que você foi citada naquele querido podcast, e tá sendo ótimo ver a artista que é. Compartilho da neurodivergência, (tenho TDAH e possivelmente outra coisa) só nós sabemos o quão desgastante pode ser na maioria das vezes… Apenas continue, querida Oliver. Voce é preciosa!

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Elle Oliver
Elle Oliver
06 de out.
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Obrigadaaa Lipe 💕 força pra nós, somos precioooosos meu filho kk

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