Carnaval pt.3
- Elle Oliver

- 28 de fev.
- 5 min de leitura
Eu queria muito fazer essa fofoca em formato de vídeo mas estou em situação de mudança, situação de barril do chaves…
Mas a fofoca não pode esperar, ela ultrapassa barreiras. O que aconteceu foi o seguinte:
“Paulo Barros afirma que enredos afros no Carnaval são todos iguais e -ninguém entende nada-”
🫥
Bom, vamos dar uns passos atrás para meus queridos assinantes que não conhecem carnaval (estou julgando).
Quem é Paulo Barros? Se você já sabe, vai descendo até a linha, mas ler nunca é demais (não lembro o último livro que li 🫣)
Ele foi comissário de bordo da Varig, e segundo ele sempre foi artisticamente autodidata até que em 1993, um amigo o chamou porque ele desenhava por conta própria.
Galera, eu pinto, graffito, faço tatuagens, esculturas, escrevo, desenho de forma tradicional e digital, mexo com 3D, planto bananeira… Sempre me perguntei o porquê dessa oportunidade não surgir pra mim. Estou com recalque? Estou mesmo. Talvez eu tenha que ter um pênis afinal, as carnavalescas foram extintas. Talvez eu tenha que parar de ser autista.
Voltando ao assunto, a primeira vez que o Paulo impressionou o mundo do samba foi com o seu carro DNA em 2004 pela Unidos da Tijuca e desde então, ficou conhecido por fazer carros com todos os elementos nele ensaiados, as pessoas não estavam nos carros para se divertirem em um desfile, sacudindo os ombros com penas e fingirem que sambam. Estavam ali por uma função estética da escola: serem obras primas.
Paulo não levou o título naquele ano mas entrou para a história. Lembro de todos os carnavais dele na escola até 2006, lembro de todos os sambas de enredo. A escola amargava por “não ter uma bandeira forte” -uma expressão que muitos usam para se referir à tradição da escola e sua história pesar na hora da nota. Uma vez, quando ficou em segundo lugar com o enredo “Entrou por um lado, saiu pelo outro” de 2005, tenho uma uma memória dos meus tios e componentes que desfilaram, irem de nariz de palhaço no desfile das campeãs afinal, a escola ficou em segundo por um décimo que segundo todos, era um resultado da bandeira e de não engolirem bem a revolução do carnaval de Paulo. (Até aqui uma boa fofoca Velha)
Paulo mudou de escola para escola, sempre com sua marca de carros e ou alas extremamente coreografadas. Nunca me esquecerei de quando esteve na Viradouro e fez a bateria entrar em um carro que era um tabuleiro de xadrez no meio do desfile. Eles viraram peças do jogo, aqueles com roupa branca de um lado, pretas do outro. Agora a bateria também tinha coreografia.
O tempo passou e finalmente, Paulo ganhou seu primeiro título em 2010 com o enredo “é segredo” pela Unidos da Tijuca (catártico né).
Até 2010, várias escolas já utilizavam mais alas e carros coreografados. A moda pegou, mas mais uma vez, Paulo entrou para a história com sua comissão de frente inovadora e estreiou uma corrida das escolas por comissões de frente mais trabalhadas com truques e segredos.
Se você já sabe do homi, bem vindo ao início da nossa fofoca. Atualmente, Paulo tem momentos bons e ruins. Ironicamente ao falar que “Todos enredos Afros são iguais” ele fala de si também. Se alguém assistir à uma escola de samba sem saber que ele foi o carnavalesco, essa pessoa facilmente encontrará as mesmas marcas do carnavalesco de todos os anos. Alguns diriam que é normal, que é uma assinatura. O problema é que não há uma reinvenção de si mesmo, no lugar disso, ele copia e cola ícones da cultura pop como em “gbala”, um enredo afro que ele reeditou pela Vila Isabel. Lá pro final do desfile você vê Te Fiti, personagem de Moana, no melhor estilo do meme “copia mas não faz igual” ou pior, aquelas tatuagens que a pessoa copia de outra mas o resultado fica meio bubbaloo mascado.
vish.
Esse ano ele virá com o Mike e outros personagens de Monstros S.A. Me pergunto se a Disney sabe e dá um aval para não haver processo.
Além de copiar a Disney e outras empresas, corre à bocas pequenas (tenho fontes mas não sou dedo duro) que SUPOSTAMENTE (não quero dar mais dor de cabeça pro meu advogado), Paulo copia trabalho de artistas sem modificar muita coisa ou até nada. E como artista, eu posso dizer que nós usamos sim de várias referências para uma nova arte como aparece no livro “roube como um artista”. Mas o resultado não se assemelha com nenhuma das obras referenciadas.
Depois da repercussão negativa de sua matéria no jornal, ele fez um vídeo reiteirando tudo o que disse e criticando aqueles que o taxam de “rascista” entre outras coisas. Disse também que essas pessoas reivindicam liberdade de expressão mas condenaram o que ele disse.
O que o carnavalesco parece não entender é que sua fala é exatamente igual à de pessoas que não acompanham mais assiduamente o carnaval.
Tenho uma tia avó católica que fala isso mas parou de falar quando eu fiz a coisa mais simples do mundo: conversei sobre os enredos com ela. Assim, ela mesma começou a se interessar por cada uma das histórias que serão contadas.
Logo, é triste para alguém no cargo e conhecimento dele. Sim, as pessoas realmente gostam de reconhecer as referências pop que ele coloca, o que torna mais palatável para o público em geral; enquanto enredos de religiões de matriz africanas possuem conteúdos desconhecidos e que precisam de um trabalho melhor de toda escola e da emissora de tv para nortear um pouco o telespectador. Mas não necessariamente palatável é o que necessitamos, às vezes, precisamos nos abrir para outros universos e conhecimentos, aprender dá trabalho. Essa é a essência de uma escola de samba, afinal, não deixa de ser uma ESCOLA.
Além disso, é uma fala perigosa. Isso porque ela reforça um discurso de outro tipo de pessoa; as que discriminam as religiões de matrizes africanas. Não é achismo, é só ler os comentários quando alguma escola revela o enredo do ano ou ver falas de certos influencers. Tá ali, escrachado.
É sempre muito legal quando uma escola escolhe um tema africano, relacionando com religiões ou não e o povo envolvido com a escola, se apodera com ele; e é o que temos visto com essa época em que vivemos de “enredos afros”. Eles empoderam, são necessários, contam um passado que a história tentou apagar.
Dava para falar que ele não é fã desses enredos por não conseguir inserir sua estética neles (se bem que ele iria meter um pantera negra e Wakanda não sei como). Ou que prefere fazer desfiles onde as crianças prestem atenção para aquilo (sei lá to inventando algo)… Enfim, existem maneiras e maneiras. Mas mesmo em seu vídeo ele não consegue em momento algum deixar sua fala menos problemática.
Por fim, ele taxa o público como preguiçoso e burro ao achar que eles não conseguem absorver nada da experiência de um desfile com a temática Afro. Infelizmente vemos que alguém que sempre lutou para a evolução, sucumbir à mesmice de tantos outros que o criticavam no passado.














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