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Merda e Quebre a Perna

Atualizado: 6 de dez. de 2022

Atenção: Reader discretion is advised ~ Graphic content - mas sem spoiler pra não matar o humor pastelão acerca da vida da autora.


Um Prólogo antes do assunto dessa semana (pode pular se estiver sem saco).

A breve história do meu passado no teatro:

Sendo criada pelos meus avós, eles sempre arrumavam formas de distrair a mim e ao meu primo. Meu avô fez uma mesinha para do tamanho e passávamos dias desenhando nela. Meu tio, lia para mim e escrevia peças e esquetes para que eu e meu primo apresentássemos na sala do apartamento -uma vez inclusive, meu primo se pintou de lobo mal com uma pilot e a pintura não saiu até hoje -.



Fiz aulas no Daniel Azulay e de pintura à óleo. Apesar de mostrarmos tanto amor pela arte, nunca foi visto como uma futura profissão, apenas hobbie - ao contrário de mães que sempre apostaram no futuro nos filhos, como as mães de crianças tiktokers e youtubers e antigamente, eram mães de filhos wanna be modelos e atores matriculados em agências como ''talentos brilhantes''.


Que talentoso e lindo seu filho!


A minha escola sempre apoiou muito os esportes mas em um determinado ano, abriram aulas extra classes de teatro. Foi aquela história que todo mundo conta: me matriculei porque era uma criança muito envergonhada.


Ainh


Faltei a primeira aula por vergonha -RISOS- e pensei em desistir. Minha melhor amiga na época, elogiou muito a aula, falou com tanto brilho nos olhos que fui na semana seguinte.

A partir daí foi festa. Lembro da primeira aula como hoje: em uma esquete que tinham montado na última aula e não tinha mais personagem para mim. Era um almoço em família e adicionei um cachorro para que eu participasse. Enquanto a cena rolava, lembro do professor Eduardo rir muito - infelizmente gostaria muito de lembrar o sobrenome dele- aquilo mexeu com alguma coisa dentro de mim. Teve algum momento em alguma outra cena que eu era a filha do Angolano. Sim. O Angolano da Zorra Total (Romeu Evaristo). Minha voz de Angolano com charuto pegou a galera de surpresa.


ooohrr Carolaaaine


Hoje vejo que as aulas provavelmente eram bem mais avançadas do que deveriam - tínhamos até palhaçaria; uma das aulas todos chegamos em algum lugar onde choramos muito, pantomimas e improvisação. Minha segunda peça foi Um Sonho De Uma Noite De Verão (ainda sonho com alguns diálogos) e eu fui o Puck.

Não era esse Puck


Inicialmente, fiquei triste com a escolha, ainda era uma criança e queria o papel de uma das belas mulheres ou de alguma fada. Todavia, assim que li, entendi a escolha do professor, bem como entendi outra coisa dentro de mim, quase como meu cerne (alou filme A Origem dos Guardiões). Profundo pra uma criança? Sim. Mas do caralho.



ô filmão


Depois, fizemos outras peças e até entramos em concursos de outras escolas.

Por três anos fui muito feliz.


Mais velha, quis voltar ao teatro. Inventava desculpas para isso. Quase como se eu não pudesse fazer apenas porque gostava ou quisesse que aquilo virasse de fato um trabalho.

Eu dizia que voltaria porque faria bem para meu psicológico -que estava na pior- ou, na minha opinião, a pior desculpa: porque eu cursava design gráfico e animação e o teatro me ajudaria a entender os movimentos, escrita e personagens. Não que não fosse ajudar, mas puta merda.


Antecipação e exagero aí pra ilustrar alguns princípios da animação


Se você teve preguiça, comece a ler aqui


Uma curiosidade é que antes de uma peça, os atores costumam pedir muita merda. O motivo é que nos tempos antigos, quando o teatro lotava, se via pela quantidade de merda quentinha na porta, carinhosamente deixada pelos cavalos das carruagens.


Também se fala quebre a perna.

O porquê disso, eu não tinha ideia.

Ainda.

Normalmente, no teatro, ficamos descalços e com roupas confortáveis.

Uma coisa muito importante que exercícios de improvisação é você estar sempre ligado e sentindo as pessoas ao redor. Se não, todo mundo dá uma Dinho ouropretozada e cai do palco, trombamos, damos cabeçadas...

Era um ambiente seguro, não tinha palco, não tinha tanta gente... O que podia dar errado? Começamos a suar e para encurtar uma senhora pisou no meu pé. Escorreguei com suor do chão.


CRACK


Ok, algo deu muito errado porque já não conseguia andar.

E que quebre a perna...


Fiquei três meses sem poder andar, minha perna parecia o personagem frango desossado de Vaca e Frango.

Acho que não só a perna.


Só fui voltar de fato ao teatro em 2019/2020... Ou melhor, quis voltar né?

Thanos causou o BLIP na humanidade.


Covid19


Nesse ano de 2022 voltei, toda lépida e fagueira. No último mês, tive recesso do curso e procurei um outro de curta duração para encaixar nesse breve período. Depois de procurar e ponderar qual era a melhor opção (o mais barato), fiz minha inscrição para o curso ''Mergulho no Teatro Musical'' na CAL.


Uma semana de aprendizado teatral, vocal, troca de ideias, exercícios e no final, a montagem de números musicais. Pra mim parecia aqueles acampamentos de verão americano.


Eu e meu uniforme preto -agora com uma sapatilha preta para evitar acidentes- tava no clima.


No dia anterior, ja arrumei minha mochila, comi salada e peixe para evitar qualquer reboliço estomacal. Tomei meus remédios no horário e acordei bem cedo para a aula.

Esse era O MEU DIA.

Chegando lá, me deparo com uma escadaria de pagar pecado:

Meupadinpadiciçu

Pelo menos tinha um bondinho... Depois de uma escadaria. Ah, mas depois do bondinho tem mais escada também. Nota 10 de inclusão.


A aula segue, apresentação de professores e o planejamento da semana. Aquecimentos, a apresentação dos alunos e no meio tempo disso tudo, enfiei uma banana para dentro como um macaco faminto. Tudo em nome da saúde, pressão baixa, aqui não!

A apresentação de cada aluno é aquele lenga lenga. Eu tenho bastante coisa pra falar mas não é por isso que eu VOU dizer. Tem coisas que simplesmente deixamos de fora, ninguém precisa saber que eu ficava de fralda com uma gravata borboleta cantando ópera na sala. Tudo bem que o curso envolve música mas…? Ou minhas experiências com meu tio… tava formado na minha cabeça: fiz teatro quando criança e algumas vezes depois, fiz outros cursos como dublagem e piano. Atualmente faço teatro focado em improviso e humor ponto final.

Mas tem gente que da uma exagerada e conta de quando o filho teve sarampo ou de alguma viagem.

No geral, eu acho isso um saco mas dessa vez achei espetacular porque além de se apresentar, tínhamos que cantar. Sim, cantar.

Eu não canto.

Cantava high school musical no último dia de aula…


Não é nem que eu cantasse mal mas não era exatamente, nem de perto, uma habilidade.

Com toda a enrolação eu poderia pensar em alguma coisa… Alguma coisa mais atuada do que cantada poderia me salvar de uma vergonha de frente a tantos rouxinóis.

Alguma coisa interrompeu meu pensamento.

Ansiedade? Talvez.

Calor? Com certeza.

Alguma coisa começou q se contorcer dentro de mim.

Enjoo.

Não conseguia mais me concentrar em um pensamento.

Algo dentro de mim queria sair. Com urgência.

MAS NÃO HOJE!

HOJE ERA MEU DIA!

HOJE EU ESTAVA PREPARADA!

Peguei meu saquinho de remédio e inseri meu Vonal sublingual 4g de pura safadeza.

O que muita gente não sabe é que a frase ''pop a 911'' da Lady Gaga foi inspirada em mim


A estrutura onde eu estava sentada, assistindo e esperando minha vez para a apresentação, é a de arquibancada, onde eu sentei na cadeira mais alta. Pensamentos começaram a me rondar. Mais especificamente cenas de desenhos dos anos 90 onde os animadores colocavam todo suor e vontade nas partes escatológicas. Aliás, onde foram parar essas cenas nos desenhos atuais?

Só que no caso, ia escorrer como as cataratas do Niágara para as arquibancadas abaixo.


O que pareceram horas no meu pensamento, foram só uns 3min na vida real. O meu espírito saiu para o banheiro, com toda compostura. Digo espírito porque o meu corpo estava petrificado, já havia cedido às forças sobrenaturais, o famoso entregue para Deux.

Me imagino dando um pé na porta do reservado como cowboys em saloons mas, provavelmente, eu só entrei de cabeça e mirei o vaso - que estava com a tampa abaixada- e chamei o Raul na temática de musical enquanto levantava a tampa.

Mas não é vomite e quebre a perna né.

É merda.

Enquanto a humilhação vinha pela frente, escutei um PLOFT no chão. Não era o barulho do meu celular caindo, era algo como um purê que a gente vê naquelas cenas de cantina escolar ou de presídios.

Quando o Raul deu um descanso, olhei o que havia caído.

Era um tolete em forma de purê. Provavelmente coado pelo meu macacão.

Simplesmente não tinha notado que na hora do Raul, alguém não era fã e saiu pela porta de trás.


Havia um cagão no chão que fora coado pelo meu macacão preto sarwel (favor não julgar). Eu não tinha notado até então a vontade de cagar, só a de vomitar mas assim que vi o cagão fiquei desesperada para sentar no troninho. Tiro o macacão? Não dava mais tempo... A segunda leva veio e sentei no trono como estava, agora pegando a lixeira já sabendo do vazamento duplo. Me sentia um filtro coador Melita.

Hmmm... Quentinho


Não sei quanto tempo fiquei naquele estado de suspensão do espírito, me desfazendo. Quando tive um espaço entre idas e vindas, raciocino: grito para alguém me ajudar? impossível pegar um Uber, impossível sequer sair do banheiro cagada. Consegui nesse espasmo de consciência, enviar uma mensagem para minha querida mãezinha (é assim que a gente pensa quando estamos passando mal ou já desencarnamos e Chico Xavier está psicografando alguma mensagem nossa).

A mensagem foi: Socorro. Vem me buscar. Estou passando mal.

Senti que tudo ia começar novamente, só deu tempo de printar e enviar para meu querido paizinho.

Minutos depois, meu pai me liga perguntando coisas complexas demais pra que eu conseguisse raciocinar: o endereço da CAL, onde estacionar, onde era o banheiro, etcetc... Mas, por sorte, logo desistiu quando logo respondi: PrOcuuurA nO GooGlrrrrarrrrhhh OOORhhhhlololo.

Minutos, horas ou dias depois, não tem como eu saber, escuto a voz do meu pai procurando o banheiro. Com uma voz bufante (depois me contou que subiu TODAS as escadas em uma tacada só, sem bondinho nem nada) entregou o jaleco (ele tem jaleco no carro porque é médico) por cima da porta do banheiro onde eu fui me vestir.

Primeiro: limpar o explosivo que estava no chão onde só então notei que foi tamanha pressão, de forma que uma parte bateu na parede e caiu no chão, causando o barulho estranho.

Tinha bastante papel. Ainda bem.

Depois fui ver o estrago em mim. Cuidadosamente, retirei o macacão. Tive que classicamente jogar meia e calcinha fora. Tomei um banho de gato com o papel, um líquido verde com um frescor de pinheiro cagado (sabão) e água de torneira.

Enquanto isso, ouço da sala perguntarem sobre a menina do cabelo rosa, a única que ainda não havia se apresentado e estava passando mal.

Logo que escutei, eu, semi-nua, de jaleco, olhei para minha cara no espelho, puxei o frescor do ar que me permeava e gritei:

-TÔ INDO.

Me sentindo limpa, cheirosa e PRONTA.


Quando fique na frente da arquibancada que me toquei da merda parte 2: a missão que eu estava fazendo. Claramente não tinha eletrólitos para estar pensando direito, não sabia mais o que dizer muito menos a música que eu ia cantar.

Só lembro de duas coisas;

A primeira foi que logo no início disse algo como ''Olá, desculpem a demora e o jeitinho que eu tô mas acabei passando mal, caguei e vomitei na minha roupa toda. Não vai ser a melhor das apresentações mas...''Só lembro até aí. Posso ter falado barbaridades na apresentação mas como um sábio uma vez citou ''se eu não lembro, não aconteceu''.

A segunda coisa que me lembro foi na hora da música. Não podia mais fazer nada tão encenado como eu queria, já que além de estar mal das pernas, o jaleco era grande em mim de forma que... Bom, ninguém é obrigado a ver aquilo. Menos movimento também significava não emitir um odor pútrido que provavelmente estava me acompanhando.

Lembrei então de uma música que uma das alunas estava cantando no momento que dei uma melhorada, tinha que ser aquela. Eu lembrava da letra por isso (pelo menos era o que eu achava).

Depois de cantar, ninguém achou que eu fosse um animal sofrendo (embora parecesse de todas as formas) pedindo para ser abatido, não deve ter sido tão ruim. OU AS PESSOAS ERAM MUITO EDUCADAS E GENTE BOA.

Uns fofos, uns queridos


Você pode estar se perguntando se eu saí de lá pensando em voltar no dia seguinte e a resposta é não. Mas só por um motivo: enquanto eu descia as escadas, o bondinho e mais escadas, pensava em como ia lavar minha roupa -e agora o jaleco- quando chegasse em casa.

A roupinha no saquinho e o sorriso de uma campeã


Por ironia do destino, tinha um aviso no bondinho:

Eu era o macaco, certeza.

Vou pular a parte de lavar a roupa porque algumas coisas tem limites. Talvez esteja no meu Standup. Quando eu fizer um. Se eu fizer um.

Tenho pena de quem estiver comendo na apresentação já que minhas histórias são na maioria das vezes uma merda.

HUMOR GALERA!!!!

Voltando e resumindo a história, eu fui no dia seguinte. E no seguinte após esse.

Realmente, as pessoas eram extremamente educadas e legais, o que era bom e ruim quando penso n minha apresentação. Queria me matar todos os dias por acordar cedo e ficar até a madrugada decorando uma música. Mas, com a mesma força da raiva, eu tinha a força de vontade para aprender, e COMO eu aprendi.

Modéstia à parte, sou muito boa em interpretar, seja com o corpo, rosto ou os dois.

kkkkk okok

Mas, como eu ia dizendo, sou um animal cantando. E o animal não é um rouxinol. Mesmo assim, a professora Cintia e a monitora Bia foram extremamente pacientes e doces. Foi lindo e inspirador ver e sentir o amor e emoção das professoras Rafaela e Nana. O monitor Pedro que corajosamente foi me chamar no banheiro risos para que eu me apresentasse e sempre estava ali para TUDO.

Sim, momento AWN.

Mas valeu à pena,

Merda e quebre a perna.

Eu terminei a semana exatamente assim

Ok, talvez não... Mas quase.

Não consegui comer uma banana desde então.


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