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Não existe amor em SP etc


Parecia um carnaval fora de época. Um mar de gente fantasiada de roupa formal, claramente nada confortáveis e seus progenitores, limpando o rosto deles com baba. As minhas chances que já não eram boas, pioraram. Sério, imaginem paulistas mirins em sua maioria, (naquele ano não houve entrevista no Rio de Janeiro) com seus papais e mamães igualmente bem vestidos versus eu, toda coberta como uma múmia e meu pai, de cabelo comprido e bermuda. Percebe-se o nível classe média caviar do programa, quando os papais e mamãs vão junto escoltar as crias. Me senti mal e no lugar errado. Era até pra estar acostumada já que esse foi o resumo da minha vida.

Os paulistas

VS

eu e meu progenitor

Descobri que apenas haveria uma apresentação do programa e as entrevistas seguiriam para depois. Em ordem de o quão longe você vinha. Logo, a minha aconteceria no dia seguinte. Mais um dia vestida de Imhotep com crossover no seriado Suits. Ainda em uma fila monstruosa para entrar no teatro onde haveria a apresentação, conheci três irmãs que também eram do Rio. Duas delas faziam medicina (meu deeeoools o que cês tavam fazendo lá então? Não basta ser o orgulho da família não ) e uma infelizmente não lembro. Foi aí que percebi; muitas daquelas pessoas gostavam de Disney, já foram trocentas vezes, mas era aquilo, aquele amor de quem ama salgadinho com guaraná de festa infantil ou perfume importado. Era mais um intercâmbio em um lugar que elas conheciam e gostavam. Outras nem gostavam da Disney mas sabiam que era uma oportunidade para polir o currículo.

No dia seguinte, mais uma fila e horas olhando para o teto, andando de um lado a outro em um lugar designado para convenções de um hotel. Esperando a vez de ser chamada para a tal entrevista. Várias pessoas nervosas lendo e relendo papéis com possíveis perguntas, outras, chorando. Sim, não me perguntem o porquê, acho que era muita pressão estar esperando uma pessoa para conversar dentro de um hotel com ar condicionado e água saborizada.

Ficava mentalmente pensando em quem eu socaria primeiro se remotamente fosse chamada para o programa. Em particular, uma menina que falava alto e contava louros da vitória após ter saído da entrevista. Aquela alí deu vontade de dar um gancho no local mesmo. Ela e seu grupinho, pareciam shih-tzus e lulus da pomerânia rindo de pessoas que claramente não conseguiriam passar na seleção. AAAaaah... A beleza do ser humano.

Finalmente minha hora de ser entrevistada. Entrei na sala junto de mais das suas irmãs ou uma, não recordo agora muito bem já que outra coisa roubou a cena: a bagunça da situação. Eram várias mesas com entrevistadores e pessoas falando ao mesmo tempo, e para coroar, como não tinha entrevistador o suficiente, a responsável pelo programa foi nos entrevistar.

Metade do meu cérebro tentava me consolar:

-Belle, (quando eu falo comigo mesma e quero ser carinhosa é Belle) talvez isso seja bom, ela pode ver a paixão no brilho dos seus olhos.

A outra metade era mais realista:

-Ela vai comer teu rabo com areia.

Eu estava errada, nada disso aconteceu. Simplesmente a entrevista era pausada a cada três minutos por outros funcionários para resolver algo como se fosse normal. Acho que ela nem viu que eu era um ser humano na frente dela, sei lá. Foi basicamente isso. E fui embora.

Esperavam mais? É, eu também.

O resultado só sairia dentro de um mês ou mais. Ideal para alguém com ansiedade. Eu sei, vocês esperavam ler a resposta nesse texto mas a vida não é justa. Então, enquanto esperava o resultado, resolvi atacar outras vertentes do plano Disney. Se eu quisesse ser artista lá, teria que fazer coisas relevantes pro meu currículo. E foi ai que conheci o Tim Burton...

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